Em visita ao ABC Paulista no sábado (13), o governador João Doria criticou seus antecessores ao afirmar que “o silêncio é a arma dos medíocres, dos covardes que não tomam decisões. O meu governo vai tomar uma decisão. Alguns podem gostar; outros, não”, ao ser questionado sobre a situação da Linha 18-Bronze que há quase cinco anos tem suas obras suspensas sem um desfecho afinal.
Doria garantiu que até junho sairá o resultado de um estudo em que a melhor solução será apontada, seja ele o monotrilho, projeto já contratado, ou um suposto BRT (corredor de ônibus) “de alta velocidade e alta capacidade”, segundo ele. A afirmação complementou uma informação enigmática dada pelo governador na semana passada durante a inauguração da estação Campo Belo, quando disse que haverá uma solução para a Linha 18 que não envolva o gasto de R$ 600 milhões em desapropriações, sem explicar do que se trata a tal solução mágica.
Ao contrário do que o governador afirma, não há absolutamente nada mais a ser estudado e nenhuma outra ação que não seja obter os recursos para iniciar a obra do monotrilho, que já consumiu tempo e dinheiro demais para ser descartada à essa altura. Ou seja, Doria está sendo tão covarde quanto seus antecessores ao não assumir um compromisso do governo do estado (independentemente se de outra gestão) que prometeu um sistema de metrô para a região – e aqui não cabe discutir se o monotrilho é ou não capaz ou se pode ser chamado de metrô, afinal isso é semântica apenas.
A população espera pelo metrô e não por corredores de ônibus. E por metrô quer dizer um sistema fechado, conectado com as demais linhas sem custo extra, com boa capacidade, conforto e que circula por vias sem interrupção. Qualquer outra proposta apontada pelo tal “estudo” é apenas paliativo, se muito. Em outras palavras, Doria precisa viabilizar uma linha de metrô para a região. Ponto.

Propostas pouco críveis
Os 100 primeiros dias do governo Doria no que diz respeito aos trilhos foram de muitas promessas, alguns acertos administrativos e ações herdadas de outras gestões. Embora tenha exaltado como se fosse algo de sua responsabilidade, inaugurar Campo Belo, lançar o serviço direto da Linha 11 até Mogi das Cruzes, os novos horários do serviço Connect ou assinar contratos da Linha 15 só ocorreram porque o trabalho já estava encaminhado. Vale observar sim que foi perceptível o empenho da atual gestão para que esses projetos não atrasassem mais pela inércia natural do ambiente público mas é só.
Já quando o governador fala sobre ações próprias o que mais tem se notado são ideias vagas ou até fora da realidade como implantar portas de plataforma na CPTM em tempo recorde. Ou mesmo prometer concluir a Linha 17-Ouro em cerca de dois anos sendo que a licitação dos trens ainda não tem nem prazo para ser realizada.
Mas é sobre a polêmica história do trem para o Aeroporto de Guarulhos que Doria parece mais perdido. Desde a campanha, o governador do PSDB reclama do absurdo que é a linha não chegar aos terminais, mas desde então surgem ideias mirabolantes como uma imensa passarela para levar os passageiros até o aeroporto.
Há algumas semanas, no entanto, com o vazamento da apresentação da Secretaria dos Transportes Metropolitanos sobre os planos da pasta, a esperança de bom senso ressurgiu. Nela, sugere-se que a Linha 13-Jade deixaria de contornar a área do aeroporto para finalmente seguir próxima aos terminais e ganhar a tão necessária estação Guarulhos – Terminal 2. Trata-se da única solução lógica se o objetivo de conectar o aeroporto à rede metroferroviária permanece válido.

Levar uma linha de metrô ou trem metropolitano para dentro da área de terminais é a promessa inicial não cumprida até aqui. E é responsabilidade do estado fazer isso. Se a concessionária do aeroporto cria dificuldades deve-se trabalhar com o governo federal para reverter isso, sobretudo porque as duas gestões hoje são aliadas até certo ponto.
Mas Doria voltou a falar em mais um paliativo. Na sexta-feira, em entrevista à rádio Jovem Pan, o governador ressuscitou o “people mover“, espécie de trem de baixa capacidade que havia sido proposta pela própria GRU Airport na época em que assumiu o aeroporto. Endividada, a concessionária esqueceu de promessa desde então, mas o governador deu a entender que ela teria aceitado novamente a incumbência – questionada, a GRU afirmou apenas que está conversando com o estado em busca de uma solução.
Como se vê, novamente Doria não toma uma decisão clara. Ou a Linha 13-Jade irá de fato ser a “linha do aeroporto” ou melhor esquecer esse slogan e considerá-la um ramal metropolitano focado nos moradores da região, mas acessível para alguns passageiros que eventualmente decidirem se deslocar até a estação Aeroporto Guarulhos.
Seja na Linha 18 ou na Linha 13, as soluções ideais já existem, cabe ao atual governo viabilizá-las sem perda de tempo com mais estudos.
