No início de 2011, ela transportava menos de 30 mil passageiros por dia com três estações e horário comercial não integral, mas a expectativa era que o movimento quase dobrasse com a ampliação do horário em maio daquele ano. Não, não estamos falando de uma linha de ônibus qualquer, mas de uma linha de metrô bem localizada e conectada a outros ramais e que ainda estava bem distante do atual movimento de passageiros (próximo de atingir 1 milhão de usuários por dia nos próximos meses).
Visto dessa forma, poderia se afirmar na época que a Linha 4-Amarela (da qual citamos os números acima) seria um fracasso, mas a realidade mostrou que era questão de tempo e também de sua ampliação para que a operação mostrasse seu potencial. É provavelmente o que ocorrerá com a Linha 13-Jade, da CPTM, a primeira que a companhia constrói e opera em sua história.
A nova linha, que abriu de forma apressada no final de março para que o então governador Geraldo Alckmin do PSDB pudesse inaugurá-la (antes de se desligar do governo e se lançar candidato à presidência), está desde então evoluindo em sua operação. Em abril operou apenas aos fins de semana sem cobrança de passagem, situação que foi estendida aos dias de semana em maio. No mês passado foi iniciada a operação comercial, porém, com apenas dois trens disponíveis e um intervalo alto até mesmo para os padrões da CPTM, de 30 minutos.
Agora, em julho, o intervalo foi reduzido para 20 minutos nos horários de pico, ainda uma eternidade se pensarmos que na Linha 9-Esmeralda ele seja de 3 minutos apenas. A ideia é que essa espera seja gradualmente reduzida para algo em torno de 8 a 12 minutos nos próximos meses. Além disso, haverá a estreia dos serviços Connect, que levará alguns trens até o Brás, e Expresso Aeroporto, com quatro partidas diretas até a Luz.
Nesse cenário, a expectativa da CPTM é que 120 mil pessoas utilizem o ramal diariamente. Bem mais que os parcos 7.147 usuários diários que passaram por ela em junho. Ou seja, é cedo para dizer que a Linha 13 foi um erro de projeto ou que é um elefante branco. No entanto, para o jornal Folha de São Paulo, o novo ramal da CPTM parece ser fracasso retumbante, como já havia insinuado num artigo publicado no final de maio e em nova matéria que foi ao ar nesta quarta-feira (11).
Se no primeiro texto o jornal arriscou um palpite para o baixo movimento no primeiro dia de funcionamento em dia útil (a distância de terminais de ônibus de Guarulhos para a linha) agora a publicação fez um paralelo entre o movimento diário e as linhas de ônibus que saem do aeroporto até São Paulo. Segundo a Folha, eles levam mais passageiros que a linha de trem.
Cada quilômetro de trilhos conta
Assim como em muitos artigos sobre o assunto, a grande imprensa costuma se concentrar apenas na manchete de impacto e em algum tema que provoque algum tipo de indignação na população sem se aprofundar sobre as razões de certos fatos. Os artigos da Folha não fogem à regra. Poderiam explicar que linhas de metrô e trem, com raras exceções, não lotam da noite para o dia. Existem várias razões para isso sendo uma delas o fato de ser preciso tempo para que elas atinjam seu pico operacional – como é o caso da Linha 13.
Os intervalos altos tornam o serviço lento e desvantajoso perante outros modais. Além disso, os trens ainda não estão percorrendo os quase 12 km na velocidade ideal, o que acrescenta tempo à viagem. O site fez o trajeto há alguns meses e constatou que se perde muito tempo não só com o trecho da Linha 13 e do ônibus do aeroporto mas sobretudo com a lenta Linha 12-Safira, que leva os usuários de Engenheiro Goulart à Tatuapé e Brás, onde eles podem seguir para outros ramais. Quando essa situação melhorar, a linha ganhará eficiência e o serviço será mais competitivo.
Mas há outros fatores que o jornal dá pouca importância. A Linha 13, por exemplo, nunca foi pensada para ser a melhor opção de transporte sobre trilhos no município de Guarulhos. Esse papel caberá primeiro à extensão da Linha 2-Verde que a levará até próxima do Shopping Internacional, às margens da Via Dutra, e mais tarde para a Linha 19-Celeste, do Metrô, que sairá da região do Campo Belo, na Zona Sul de São Paulo, e seguirá quase em linha reta até a região central de Guarulhos. Ambas, no entanto, não têm previsão de início de obras por enquanto.
Para a Linha 13, a CPTM tem outros planos. O ramal atenderá a região de Bonsucesso, logo após o Aeroporto de Guarulhos, e irá sentido o bairro da Mooca, na Zona Leste de São Paulo. Esse é o plano de longo prazo da linha que, como se vê, não levará os passageiros até o centro da capital. Em outras palavras, o aeroporto não é seu objetivo principal e sim um dos geradores de tráfego, sejam eles passageiros ou funcionários.

Com essa perspectiva colocada na mesa fica claro que a demanda da Linha 13 surgirá à medida que o serviço seja ampliado. Sempre foi e será assim por uma simples razão: cada quilômetro de trilhos conta. Numa rede integrada como a de São Paulo e com tarifa sem restrição de distância, utilizar o trem é quase obrigatório por ser muito vantajoso financeiramente para viagens de média e longa distância. Não é à toa que os trens andem cheios enquanto muitos ônibus da capital paulista “batam lata”, numa gíria roubada do setor metroferroviário.
Ambos os artigos da Folha, aliás, citam a Linha 11-Coral para mostrar sua enorme demanda (acima de 700 mil pessoas por dia) como contraponto. Pois ela possui uma extensão operacional entre Guaianases e Estudantes que se assemelha às linhas 12 e 13. É preciso trocar de trem na primeira e seguir viagem até a Luz. Apesar desse incômodo, o ramal é cheio.
Esse período de reconhecimento ocorreu com a Linha 4, como dissemos, mas também com a Linha 5-Lilás, que está prestes a finalmente se conectar à rede metroviária. Quem vê a linha do Metrô hoje, lotada, nem deve se lembrar dos tempos em que ele era usado por pouca gente, logo após a inauguração do primeiro trecho, em 2002. Parecia um grande elefante branco, que ligava nada a lugar nenhum, como disse recentemente um promotor pouco informado.
O tempo passou e a linha já está perto de se tornar um dos principais eixos de mobilidade da cidade, algo que vai acontecer também com a Linha 13. Basta esperar um pouco em vez de julgá-la precipitadamente.
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