Plano de ações do Metrô em 2021 traz mais metas difíceis de cumprir do que factíveis

Apresentado nesta semana pelo presidente da companhia, Silvani Pereira, plano pretende avançar nas linhas 16, 19 e 20, mas também concluir projetos que estão atrasados como o CBTC das linhas 1 e 3 e a escavação do Complexo Rapadura
Estação Jardim Colonial em fevereiro de 2021 (iTechdrones)

Após um ano difícil, com prejuízo acima de R$ 1,7 bilhão, seria de esperar que o Metrô de São Paulo buscasse metas mais realistas, porém, o plano de negócios da companhia, divulgado nesta quarta-feira (10), traz objetivos complicados de serem atingidos em meio à algumas promessas mais factíveis.

A divulgação do documento contou com uma entrevista ao vivo do presidente do Metrô, Silvani Pereira, que justificou sua ausência durante o evento de início das obras de readequação da estação Vila Prudente por estar na capital federal – o executivo foi alvo de especulações no fim de semana de que será substituído por um delegado da polícia federal, o que não foi confirmado pelo secretário Alexandre Baldy.

Confira a seguir algumas das principais metas do plano e nosso comentário:

Atingir receita não-tarifária de R$ 330 milhões

O Metrô tem apostado em vários projetos para tentar ampliar o faturamento que não envolva o transporte de passageiros como publicidade, locação de espaços e outros, mas também esse tipo de receita é afetado pela queda na demanda. Em 2020, por exemplo, o valor obtido foi de apenas R$ 166,8 milhões, o que leva a crer que a meta de dobrar esse montante este ano seja praticamente impossível.

Reduzir despesas com bilhetagem e custeio

Com a adoção do QR Code, a empresa pretende economizar com custos de bilhetagem até R$ 14,2 milhões durante o ano. Isso envolve a redução na produção e manuseio dos bilhetes Edmonson, uma tecnologia cara e hoje de baixa demanda. Além disso, o Metrô pretende reduzir em R$ 15,7% os custos gerais, que foram de R$ 265 milhões no ano passado.

Iniciar operação comercial do CBTC nas linhas 1-Azul e 3-Vermelha

Antes previsto para ocorrer em fevereiro e julho, o projeto do CBTC atrasou mais uma vez e está em reprogramação. Apesar disso, é bastante improvável que o Metrô consiga colocar ambos em funcionamento se não houve até hoje um teste em horário comercial. Já instalar as portas de plataformas nas estações Jabaquara, Tucuruvi, Palmeiras-Barra Funda e Corinthians-Itaquera, parte do mesmo contrato, parece viável.

Iniciar as obras para segregação das vias das Linhas 1, 2 e 3

O item era desconhecido por este site até hoje e não está explicado no documento do Metrô. De fato, atualmente as três linhas mais antigas são interligadas para compartilhamento de trens e serviços, mas a perspectiva de uma possível concessão da Linha 2-Verde pode explicar a meta.

Trem da Frota I (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Publicar o edital para aquisição de 44 trens

Nesta semana, o secretário Alexandre Baldy afirmou que a licitação de 44 trens deve ocorrer em breve. Essas composições não só servirão para reforçar as linhas 1, 2 e 3, mas também substituir os 11 trens da Frota E, a única do Metrô a não contar com ar-condicionado. A informação foi revelada por Silvani durante a entrevista e mostra que a atual gestão não cogita lançar um projeto de modernização nos moldes da Frota A.

Contratar infraestrutura de monitoramento de estações e implantar CCM

Silvani já havia dito em outras ocasiões que o Metrô ambiciona criar uma infraestrutura que monitore em tempo real as estações, túneis e trens para reduzir problemas na operação. Além disso, a companhia pretende implantar um Centro de Controle de Manutenção neste ano.

Expansão

Linha 2-Verde

Segundo o plano, a meta é concluir 2021 com 80% do poço Falchi Gianini pronto, obra mais próxima da estação Vila Prudente e de onde será feita uma escavação em método NATM até lá. Além disso, o Metrô pretende executar 50% da parede diafragma da vala do Complexo Rapadura.

Eis aí um indício de que a extensão da Linha 2 até Penha deve atrasar. A meta, mesmo que atingida, significa dizer que o shield que escavará os túneis ainda terá de aguardar a conclusão do poço para começar a ser montado no Rapadura. O problema é que o impasse em relação à praça onde será feito o canteiro persiste, sem vislumbrar uma solução a curto prazo.

Obra da estação Vila Formosa, da Linha 2-Verde (iTechdrones)

Linha 4-Amarela

As metas da Linha 4 são bastante promissoras, a entrega de Vila Sônia, do terminal de ônibus, túneis e poços. Além disso, o Metrô espera assinar o contrato das obras do novo túnel de ligação entre as estações Consolação e Paulista.

Linha 5-Lilás

Aqui não há novidade: o Metrô esperar concluir a instalação das portas de plataformas que faltam até o final de 2021. Os trabalhos estão evoluindo em bom ritmo e cinco dessas estações devem contar com as PSDs a partir do mês que vem.

Linha 15-Prata

O monotrilho da Zona Leste deverá contar com a estação Jardim Colonial, mas outras frentes de trabalho não foram citadas no plano, como a contratação das obras de duas novas estações, a extensão de vias nas pontas do ramal e a licitação da futura estação Ipiranga, que foi citada por Baldy nesta semana.

Lateral da estação Morumbi (iTechdrones)

Linha 17-Ouro

Na parte civil, o Metrô espera instalar a cobertura do prédio principal do pátio Água Espraiada e instalar o bandejamento no trecho Congonhas-Campo Belo apenas. Estranha-se essa meta já que a Coesa tem prazos curtos e muitas vigas-trilho ainda a serem lançadas.

Já na parte de sistemas, a meta é modesta: aprovar o projeto executivo do monotrilho da BYD SkyRail, que teria apenas cerca de um ano para entregar o primeiro trem pronto, segundo comentou Baldy recentemente. O problema é que o contrato está parado novamente por conta de uma liminar na Justiça.

Linha 16-Violeta

Revelada em primeira mão pelo site, a Linha 16 deve ter o projeto diretriz concluído neste ano. Ela irá de Itaquera até a estação Oscar Freire, segundo mapas divulgados pela empresa.

Linha 19-Celeste

A meta da Linha 19 está atrasada. Trata-se da assinatura do contrato para o projeto básico do ramal, que deveria ter ocorrido em 2020, mas foi barrado pelo TCE.

A Linha 16-Violeta do Metrô (no centro da imagem) aparece oficialmente pela primeira vez (CMSP)

Linha 20-Rosa

O Metrô espera contar com subsídios técnicos para concluir as alternativas para o anteprojeto de engenharia do ramal, que teve contrato assinado há poucos meses.

Na entrevista, Silvani revelou algumas informações bem interessantes. O presidente disse que a área de projetos da companhia conseguiu reduzir em 15 a 20% os custos de implantação das estações da Linha 20, comparados ao projeto da Linha 5. Um dos aspectos estudados envolve estações menos profundas, que acabariam exigindo intervenções mais simples e baratas. Como o Metrô evitaria interferências no subsolo, argumento usado para projetos tão profundos, não se sabe, no entanto.

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  1. O metrô de São Paulo, assim como as redes de outras grandes cidades brasileiras, precisam de financiamento robusto e estável ao longo dos anos para poderem crescer mais rapidamente. A iniciativa privada só entrará investindo se a taxa de retorno for atraente e, para isso ocorrer, precisa de uma boa contrapartida pública. Veja o caso da linha 4 do metrô de SP, em que apenas 27% dos recursos vieram da iniciativa privada. Isso para uma linha de grande demanda e com cortes significativos de gastos em estações, eliminando algumas do projeto inicial. A linha 20-rosa projetada pelo metrô também se assemelha ao caso da linha 4. O grupo inglês, interessado em construir o ramal, afirma que pode fazer com 100% dos recursos apenas o trecho entre Santa Marina e Faria Lima. Os demais teriam que ter contrapartida estatal. Fora que ainda exigiram a concessão da linha 2, já “pronta” entre o trecho Penha e Vila Madalena e construiriam o trecho até a conexão com a linha 20( detalhe: um trecho de 2,6km com apenas uma estação adicional, o que vai contra a lógica de um transporte de alta capacidade em área adensada). Um outro fator é ver se a concessão vai ser favorável ao usuário, quanto ao número de estações também . No projeto da linha 4, por exemplo, havia 4 estações a mais do que o que foi feito efetivamente( estações Rio Branco, Maria Antônia, Brasil e Três poderes) Veja o metrô de Paris, por exemplo, com muito mais estações por linhas. Já eliminaram também umas 3 estações no projeto da linha rosa para torná-la mais atrativa à iniciativa privada. Nada contra a iniciativa privada querer lucro. É legítimo. Mas é legítimo também o usuário contar com mais opções de linhas e estações. Para viabilizar as duas coisas, somente com uma contrapartida estatal maior tanto para atrair mais investidores privados, pois o investimento em metrô é daqueles em que o retorno social é maior do que o retorno privado, inclusive considerando a tarifa a ser cobrada do usuário. Se fosse só pela lógica do lucro, a tarifa em SP, por exemplo teria que ser muita mais cara do que já é. Por isso , também exige-se contrapartida estatal também no funcionamento das linhas. O difícil é achar essas fontes de financiamento, que poderiam ser uma combinação de pedágio urbano, adicional do IPVA e imposto sobre combustíveis, mas com vinculação para a expansão de infraestrutura de transportes. Com os recursos do orçamento atuais não se dá para fazer grandes redes de metrô, pois existem demandas enormes em saúde, educação, segurança, assistência social e etc… ,principalmente num país com tanta desigualdade como o nosso. E ainda temos a dívida pública. Uma briga difícil.

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