Como foi o ano de 2020 para a CPTM

CPTM: balanço 2020

A CPTM vive um situação estranha: enquanto a gestão do presidente Pedro Moro tem buscado valorizar seus profissionais, a companhia está na iminência de perder três de seus sete linhas para a iniciativa privada. Serão duas concessões, uma oferecendo em conjunto as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, e outra incluindo a Linha 7-Rubi no pacote do primeiro serviço de trens regionais proposto pelo governo Doria.

Com esse cenário em vista nesta década, a CPTM deverá focar seus serviços na região leste e sudeste da Grande São Paulo, reduzindo significativamente seu escopo de atuação. Nesse sentido, alguns projetos cujos detalhes foram revelados durante 2020 jogam luz numa mudança de conceito na companhia, que deverá concentrar seus principais ramais no eixo Barra Funda-Brás, compartilhando vias e buscando otimizar a oferta de trens.

Tudo dependerá, é claro, de que as duas concessões sejam bem sucedidas já que ajudarão no processo de modernização do seu sistema, por meio de reformas de estações e oferta de mais trens (a concessão das linhas 8 e 9 permitirá o acréscimo de 34 composições hoje usadas nesses ramais). Ainda assim, a CPTM segue apresentando graves problemas de prazo em seus projetos, com longos atrasos e falta de transparência quanto à realidade desses programas.

A seguir um resumo de 2020 em cada um dos ramais:

Linha 7-Rubi

O ramal que já foi mais precário da rede teve boas novidades no ano passado, a principal delas a inauguração da nova estação de Francisco Morato. Maior e preparada para a concessão do Trem Intercidades, a parada fez juz à grande demanda de passageiros do município, que ficou anos utilizando uma estrutura provisória. Além disso, a CPTM eliminou gargalos nas vias que tornavam a viagem no trecho da extensão mais demorado.

A má notícia é que o ramal deverá ser encurado quando estiver nas mãos da iniciativa privada. Em documentos da CPTM, a Linha 7 passará a utilizar a estação Palmeiras-Barra Funda como terminal em vez de Luz. Trata-se de um plano delineado pela companhia para permitir que as linhas 11 e 13 possam utilizar as plataformas de Luz com mais tranquilidade. Isso só ocorrerá de fato quando a linha for concedida como parte do TIC, o que pode ocorrer em 2022, caso a licitação seja lançada neste ano.

Nova estação Francisco Morato, da Linha 7: única inauguração na malha metroferroviária em 2020 (STM)

Linha 8-Diamante

O ramal, juntamente com a Linha 9, foi motivo de muita discussão em 2020, por conta da concessão cujo leilão está previsto para março deste ano. A intenção do governo Doria é repassar a operação e manutenção das duas linhas para a iniciativa privada por um período de 30 anos. Ela terá que adquirir 34 novos trens e que permitirão um reforço para CPTM quando passarem a ser entregues.

Após várias declarações contraditórias, o governo incluiu no edital a possibilidade de concessionária operar um serviço de trem até Sorocaba, mas sem detalhar que tipo de operação seria essa. O secretário Alexandre Baldy (Transportes Metropolitanos) havia dito em algumas ocasiões que desejava incluir o trem regional nessa concessão, mas a minuta do contrato não diz isso claramente. Resta saber se a empresa vencedora verá potencial de receitas para explorar a Linha 8 após Amador Bueno.

A futura concessionária deverá adequar e reformar várias estações como Osasco, Imperatriz Leopoldina e Santa Marina, mas foi isenta de unificar as duas estações da Lapa, que deve ser um incumbência do vencedor do projeto do TIC.

Linha 9-Esmeralda

O ramal que atende a Zona Sul de São Paulo e Osasco passou por situações bastante díspares no ano passado. Pelo aspecto negativo, a linha Esmeralda teve a maior queda de demanda durante a pandemia, motivada pelo trabalho remoto. Entre as obras das novas estações, a parada Varginha decepcionou, com um avanço modesto mais uma vez – agora cogita-se que será aberta apenas em 2023, ou seja, no mandato do próximo(a) governador(a).

Pelo lado positivo, as estações Mendes-Vila Natal e João Dias progrediram a olhos vistos, sobretudo a segunda, bancada inteiramente por uma empresa privada (com exceção das vias e alimentação de energia). Foi uma demonstração clara de como a atuação de empresas interessadas no potencial econômico de uma estação pode ser benéfico para os usuários. Ambas as paradas deverão ser abertas no segundo semestre de 2021.

Estação João Dias (iTechdrones)

Além disso, a Linha 9 viu duas outras obras de ramais do Metrô avançarem e que a beneficiarão também, a ampliação da estação Santo Amaro, e a estação Morumbi da Linha 17. Essa experiência deverá se repetir quando o ramal for concedido à iniciativa privada neste ano, que terá a tarefa de realizar modernizações e adequações em sua extensão, como na estação Pinheiros.

Linha 10-Turquesa

Alvo de vários pedidos de investimentos por municípios do ABC, a Linha 10 segue em segundo plano na CPTM. Apesar das promessas do governo Doria de transformá-la para o padrão “metrô”, o ramal continua a sofrer com estações inadequadas, baixa oferta de trens e a nova estação Pirelli apenas no papel. Um cenário bem diferente do prometido em julho de 2019 quando o tucano anunciou mundos e fundos para justificar o cancelamento da Linha 18-Bronze.

Uma das poucas ações da companhia em 2020 foi lançar o “Expresso Estudante”, um eufemismo para o aumento de partidas do trem bate-e-volta que usa uma via singela entre Santo André e Tamanduateí. Serviço que, como os demais, foi suspenso com a quarentena. Sobre a estação Pirelli, apesar do interesse da prefeitura de Santo André, nada de concreto foi revelado. Ao menos no final do ano, a CPTM lançou uma licitação para executar obras de adequação nas estações Capuava e Prefeito Saladino.

Linha 11-Coral

Após levar o ramal até Mogi das Cruzes sem a necessidade de baldeação, a CPTM realizou poucas melhorias visíveis na Linha 11. Uma das poucas novidades, foi o lançamento de um anteprojeto para reformar e ampliar três estações – Jundiapeba, Mogi da Cruzes e Estudantes -, que serão alvo de uma concessão para exploração comercial no futuro.

Outra futura melhoria cuja informação foi revelada em 2020 é a extensão do ramal até Palmeiras-Barra Funda, em conjunto com a Linha 13.

Trem da Linha 12-Safira: média de velocidade subiu de 37 para 45 km/h com melhorias (CPTM)

Linha 12-Safira

Com vários restrições de velocidade ao longo de seu trajeto e que estavam há anos sem solução, a Linha 12 finalmente viu esses problemas serem sanados. Com isso, o tempo de viagem total no ramal caiu de 62 para 52 minutos, segundo o governo, o que permitiu a inserção de mais um trem no horário de pico. Além disso, a CPTM assinou contrato para aprimorar o sistema de sinalização a fim de que o intervalo entre os trens caia para 3 minutos.

A CPTM também lançou licitações para conceder áreas comerciais para a iniciativa privada em Brás e São Miguel Paulista.

Linha 13-Jade

Ramal mais vazio da rede metroferroviária, a Linha 13 passou 2020 entre altos e baixos. Após o início da quarentena, em março, os serviços Airport Express e Connect foram suspensos, tornando as viagens até Guarulhos demoradas e cansativas. Apenas no final do ano, a gestão Doria anunciou uma nova proposta de serviço, o Expresso Aeroporto, saindo de Luz até Aeroporto Guarulhos e vice-versa, com parada em Guarulhos-CECAP. Ao contrário dos outros expressos, o serviço tem partida de hora em hora, mas inclui Brás apenas no sentido capital.

Ao mesmo tempo, a CPTM realizou a entrega para operação de sete dos oito trens da Série 2500, fabricados na China para serem usados com exclusividade no ramal. No entanto, como mostrou o site, a companhia só tem utilizado duas composições em serviço, mantendo outros dois trens da Série 900 ativos na Linha 13.

Trem da Série 2500 na estação da Luz: Expresso Aeroporto de volta (CPTM)

A provável razão deve envolver o sistema de sinalização, que deveria ter sido entregue em 2018, mas não havia sido concluído oficialmente até semanas atrás. O contrato, com a empresa alemã Siemens, foi prorrogada para este ano. Por outro lado, a CPTM lançou uma licitação para levar a Linha 13 até a estação Barra Funda, com reforma das vias, sistema de energia e sinalização, mas que tem previsão de conclusão para 2024.

Trem Intercidades

O ponto mais negativo do ano foi o atraso no programa de concessão do Trem Intercidades. O projeto deveria ter sido apresentado à sociedade em 2020, mas atrasou mais uma vez. O governo passou o ano prometendo a consulta pública até o final do ano passado, mas no fim nada ocorreu. Em 2019, a gestão Doria comemorou a assinatura da extensão do contrato de concessão da Rumo na Malha Paulista de trens de carga, como último entrave para o TIC sair do papel (já que as vias que serão usadas no trem regional são de sua responsabilidade), porém, o projeto depende de outra extensão, com a concessionária MRS, que responde pelo trecho entre Jundiaí e a capital paulista. Essa renovação ainda está sendo discutida com o governo federal.

Espera-se que essa etapa seja realizada no começo de 2021 para que o edital possa ser lançado ainda neste ano. É provável que o governo esteja analisando a recepção do edital da concessão das linhas 8 e 9 para realizar adaptações no projeto, que é bem mais complexo. A futura concessionária deverá implantar novas vias, sistema de sinalização e de energia, além de construir e reformar estações no percurso, que incluirá também um serviço regional (Trem Intermetropolitano).

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