O que poderia ter sido um ano de grandes realizações acabou se transformando num pesadelo financeiro para o Metrô de São Paulo. A companhia responsável pelas linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata deve terminar 2020 com prejuízo de pelo menos R$ 1,7 bilhão, quase 220% a mais do que em 2019 quando perdeu R$ 533 milhões. A situação não é diferente com ViaQuatro e ViaMobilidade, concessionárias privadas que operam as linhas 4-Amarela e 5-Lilás. Tudo por causa, é claro, da pandemia do coronavírus, que derrubou a demanda de passageiros para níveis inimagináveis e que até recentemente não haviam sido minimamente recuperados, a despeito do isolamento social ter sido relaxado.
Por outro lado, alguns projetos importantes andaram mesmo com o cenário negativo, como a extensão da Linha 2 e os projetos de expansão da Linha 15. A seguir um balanço das quatro linhas e também dos ramais operados pela iniciativa privada, além de futuros projetos sob responsabilidade também da Secretaria dos Transportes Metropolitanos.
Linha 1-Azul
A mais antiga linha de metrô de São Paulo passou por dissabores este ano. Além da queda no número de passageiros no então mais movimentado ramal metroviário da cidade, projetos importantes para melhorar o serviço acabaram atrasando ou sendo suspensos. A instalação do sistema CBTC a cargo da Alstom deveria ter sido concluída neste ano mas atrasou e agora está previsto para fevereiro de 2021, assim como a instalação de portas de plataforma em Jabaquara e Tucuruvi. A data, no entanto, parece pouco provável diante dos poucos testes realizados até hoje.
Linha 2-Verde
O ramal que pode se transformar no mais movimentado de São Paulo viu o sistema CBTC entrar em funcionamento pleno após a atualização do software no início do ano. Além disso, o Metrô passou a divulgar informações sobre lotação dos trens e tempo de espera nos moldes da Linha 4.
A maior novidade da Linha 2-Verde foi mesmo o início das obras da extensão até Penha, com oito novas estações. Em 2020, os canteiros começaram a ser montados e as primeiras prospecções realizadas, mas a obra bruta só deve ocorrer em 2021. O canteiro mais adiantado é da estação Vila Formosa, que já tem o poço demarcado. O consórcio CML2 também encomendou a tuneladora que escavará cerca de 8 km de túneis e espera pelo equipamento até o final do ano que vem.

No entanto, até lá o Metrô precisará resolver o impasse do Complexo Rapadura, canteiro onde o ‘tatuzão’ iniciará sua escavação, mas que teve as obras suspensas após protestos de moradores a respeito da derrubada de árvores numa praça. Por outro lado, o governo federal liberou um empréstimo de US$ 550 milhões para o projeto e que será assinado com o banco CAF. Os recursos serão usados nas obras e na compra de 44 trens para as linhas 1, 2 e 3.
Linha 3-Vermelha
A Linha 3 deveria ter recebido as portas de plataforma em quatro das suas estações, mas o consórcio Kobra teve o contrato com o Metrô anulado pela Justiça. A companhia deve tentar reverter esse julgamento, mas isso soa bastante difícil. Assim como várias licitações do Metrô, a escolha da empresa que será responsável pela instalação de 88 fachadas de portas foi polêmica e cheia de brechas legais para ser questionada pelos participantes. Além disso, o sistema CBTC também foi postergado, para julho do ano que vem.
Linha 4-Amarela
A segunda fase da expansão da Linha 4 tinha previsão de ser concluída neste mês, mas os trabalhos atrasaram. Segundo relatório do Metrô, a estação Vila Sônia, última a ser construída, será repassada para a ViaQuatro até maio. No entanto, oficialmente a companhia afirma que concluirá a obra civil em dezembro, mas tem evitado fazer previsões sobre a inauguração, que é o que de fato a população precisa saber. Apesar desse problema de transparência, o ramal deve contar com mais 1,5 km em 2021, encerrando uma longa obra iniciada em 2004.

Faltaram, no entanto, novidades sobre a expansão do ramal até Taboão da Serra, cujas obras são negociadas pelo governo para serem repassadas para a ViaQuatro. A STM citou essa possibilidade várias vezes, mas nada de concreto foi anunciado.
Linha 5-Lilás
A principal novidade do ramal operado pela ViaMobilidade foi o início das obras de ampliação e adequação da estação Santo Amaro, ligação com a Linha 9-Esmeralda, da CPTM. Após um início lento, os trabalhos evoluíram no final deste ano, com a instalação de parte das estruturas metálicas que darão sustentação às passarelas laterais da plataforma. A previsão de conclusão é de janeiro de 2022.
Um tabu também foi quebrado finalmente nas últimas semanas quando os trens da Frota F voltaram a circular na Linha 5 após terem sido retirados de operação em 2017. A longa adaptação dessas composições só foi concluída em junho quando elas foram repassadas para a ViaMobilidade. No entanto, foram precisos vários meses de testes para que os trens voltassem ao serviço. Ainda assim eles estão sem aviso automáticos de mensagens e com paineis eletrônicos desligados.
Por fim, a também prometida solução para estender o ramal até Jardim Ângela não teve desdobramentos conhecidos. Assim como na Linha 4, o governo Doria pretende que a ViaMobilidade assuma a construção do trecho mediante extensão da concessão.

Linha 6-Laranja
Sem dúvida, a mais importante novidade nas linhas metroviárias de São Paulo, o retorno das obras da Linha 6 em outubro foi uma enorme conquista da atual gestão. Após mais de quatro anos parado com o abandono do consórcio Move São Paulo, o projeto do ramal de 15,3 km foi assumido pela construtora Acciona, que deverá concluir sua construção em 2025. Os trens serão fornecidos pela Alstom e as escavações dos tatuzões, iniciadas dentro de um ano.
Linha 15-Prata
O episódio mais vergonhoso do ano ocorreu em fevereiro quando uma peça do monotrilho, o run-flat, se desprendeu de um trem após estourar o pneu. O incidente obrigou o Metrô a suspender a operação da Linha 15 pro vários meses, justamente quando a demanda crescia. Bombardier e as construtoras OAS e Queiroz Galvão, do consórcio Monotrilho Expresso Monotrilho Leste, protagonizaram um vexame ao não saberem identificar o problema. No fim, a fabricante dos trens modificou o diâmetro da peça enquanto as construtoras remodelaram as vigas, mas só liberando a volta do serviço em junho.
Desde então, o governo Doria não se manifestou sobre as causas do defeito e nem se o consórcio foi ou será multado por isso, apesar de ameaças. Este site requereu ao governo uma cópia do laudo do IPT, que fez uma investigação independente, porém, a gestão negou acesso ao documento por considerá-lo “sigiloso”.

À parte isso, a Linha 15-Prata está perto de ganhar sua 11ª estação, Jardim Colonial, cujas obras avançaram velozmente durante o ano, assim com a extensão das vias na direção de Cidade Tiradentes. O Metrô também lançou a licitação para construção de outras duas estações (Boa Esperança e Jacu Pêssego) além do pátio Ragueb Chohfi. Embora não licitada, a futura estação Ipiranga está prestes a ter seu projeto executivo concluído.
Linha 17-Ouro
Projeto mais controvertido da história do Metrô, a Linha 17 terminou 2020 com um final feliz após meses de indefinições e idas e vindas na Justiça. Além de deixar a estação Morumbi quase pronta, a companhia conseguiu dar a ordem de serviço para fabricação dos trens (BYD SkyRail) e de obras civis complementares, com a Coesa Engenharia, que conseguiu afastar a concorrente Constran nos tribunais. Agora resta saber quando o ramal de quase 8 km será concluído. O governo insinua 2022, mas este site duvida, prevendo uma operação assistida a partir de 2023, na melhor hipótese.

Linha 18-Bronze
Cancelada em 2019, a Linha 18-Bronze teve o contrato extinto de forma unilateral pelo governo Doria em agosto, ignorando as cláusulas estabelecidas por ele mesmo. A decisão motivou a concessionária VEM ABC a pedir uma arbitragem por um órgão independente. A análise do caso está sendo realizada na Câmara Brasil-Canadá onde a parceira privada solicitou uma indenização de R$ 950 milhões por conta da quebra do contrato.
Enquanto isso, o governo, por meio da EMTU, encaminhou a entrega do corredor de ônibus “BRT” à Metra, que ainda terá a concessão de outro corredor, o ABD, renovada por mais 25 anos. Como se sabe, a empresa, controlada por empresários do setor de ônibus do ABC Paulista, seria a maior prejudicada pela implantação da linha de metrô, que criaria uma ligação mais veloz e eficiente com a capital paulista.
Linha 19-Celeste
Próxima na lista de prioridades do Metrô, a Linha 19 teve o trecho Guarulhos-São Paulo alvo de licitações de levantamentos topográficos e de projeto básico, porém, este último acabou barrado pelo Tribunal de Contas do Estado a pedido do sindicato que representa as empresas de projetos de arquitetura e engenharia. Com isso, o edital atrasou e só foi republicado recentemente.
Com 17,6 km, o ramal é essencial para colocar o segundo maior município da Grande São Paulo conectado à rede metroferroviária. Porém, os recursos para tirá-lo do papel são irrisórios até o momento – em 2020 foram gastos cerca de R$ 500 mil.

Linha 20-Rosa
A controvertida Linha 20 foi usada como pretexto para o cancelamento da Linha 18 e assim sua situação real só começou a ficar clara neste ano quando o Metrô lançou a licitação do projeto funcional e de arquitetura. Trata-se de um passo ainda inicial para determinar onde serão as estações, poços de ventilação e pátio, além de métodos de construção e outras características técnicas. Só então será possível lançar outra licitação, a de projeto básico, que dará subsídios para um edital de concessão, a forma escolhida por Doria para viabilizá-la.
Apesar disso, os estudos do ramal foram alterados, levando a Linha 20 até a estação Santo André numa ponta, e Santa Marina na outra. Curiosamente, um Manifestação de Interesse Privado apresentada em dezembro ao governo propôs a concessão da Linha Rosa em conjunto com a Linha 2-Verde. A empresa sugere assumir a operação deste ramal enquanto constrói a Linha 20, mas no trecho Santa Marina-São Judas, considerado prioritário por ela, ao contrário da extensão até o ABC Paulista, tida como opcional.